quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Torcer até (depois de) morrer!

Texto escrito originalmente para publicação no excelente grupo do Facebook "América FC do Rio de Janeiro e suas histórias contadas por torcedores", criado pelo também americano Paulo Cezar Carreira. Lá, defini este grupo como "um ambiente sadio de verdadeiros americanos que ainda sentem prazer com o que atualmente nos proporciona alegrias e a certeza de que precisamos nos unir por um futuro melhor: nosso passado de glórias."

Aquele dia foi especial. Domingo, 13 de agosto de 1972. Dia dos pais.

O garoto, que nada entendia de futebol estava radiante. Seu pai o levaria ao Maracanã. O jogo? America x Flamengo. Era sua estréia no "maior estádio do mundo". Iriam também a mãe, o tio, a tia, os primos e os irmãos, todos flamenguistas. O pai? O único torcedor do America.

O menino, com apenas seis anos, ainda não havia escolhido seu time de coração. Seus pais nunca forçaram nada, deixaram acontecer naturalmente, sem influenciar.

O passeio foi maravilhoso. Estacionaram o carro no Colégio Militar, caminharam até a Estátua do Bellini, compraram os ingressos, passaram as roletas e subiram a rampa! O menino olhava tudo com admiração! A cada instante, sentado no cangote do pai, perguntava sobre isso e aquilo.

O pai, muito atencioso e solícito, esclarecia cada detalhe.

No alto da rampa, um momento de ouro: cada um ganhou um cachorro quente da Geneal e uma Grapette. Caminharam para a arquibancada felizes ouvindo gritos de torcedores e vendo bandeiras vermelhas e rubronegras tremularem.

O Maracanã não estava cheio para os padrões da época. Pouco mais de 21 mil pagantes. Hoje é público de final de campeonato, mas na época era comum jogar para mais de 70 mil pessoas.

A criança sentou no colo do pai quase que o jogo todo. Perguntava cada detalhe: "só dois times jogam? O juiz pode fazer gol? Por que xingam a mãe dele, tadinha?"

Aí veio um momento mágico: o pai contou, pela primeira vez, que ele estava fazendo com o filho o mesmo que o pai dele, o avô da criança, fazia com ele, antes ainda de haver Maracanã.

Detalhe importante: a criança não conheceu o avô, também americano, falecido meses antes de ele nascer. Ele foi batizado com o nome idêntico ao dele. Nem mesmo teve incluído o sobrenome da mãe ou o sufixo 'Neto'.

Nesse momento, o menino viu uma lágrima escorrendo pelos olhos de seu pai. E perguntou: "você está triste, pai?". Ao que ele respondeu: "não, meu filho. Estou emocionado porque sinto que seu avô está aqui conosco nesse momento".

Naquele instante, algo muito forte aconteceu: o garoto decidiu virar americano. E, a partir dali, viveu experiências mágicas ao lado do pai.

Eu cresci, mas não esqueço cada uma dessas experiências. Cada momento que vivi ao lado de meu saudoso pai, Helio. Sempre lembrando com carinho do avô 'xará', que "esteve sempre conosco".

Mario Linhares, sem o 'Neto', americano como o pai e o avô!

P.S.:A foto é de um time do America do início dos anos 1970. Não me recordo se o time era esse. O objetivo foi ilustrar o post. Foi tirada do UOL/Terceiro Tempo.

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